sexta-feira, 8 de abril de 2011

Massacre em Realengo

“Pensando que era bombinha, porque teve uma época que soltaram bombinha na escola, pensando que era brincadeira. Quando a gente chegou na porta pra ver o que é que era, nisso a turma do lado começou a sair um montão de gente baleada, sangrando muito. Aí todo mundo parou em estado de choque. O garoto tava se arrastando, morreu no meu pé assim...”, contou uma aluna depois que os primeiros tiros foram disparados.

“Ele procurava as pessoas assim, mirava assim na cabeça e atirava.”, disse outro aluno.

"Aí ele chegou falando assim ‘Vou matar vocês’ e eu escutava muitos tiros, muitos tiros e um monte de crianças gritando. Quando eu ia subir pro segundo aí eu fui lá e falei assim ‘Meu Deus, o que é que será que acontecer comigo?’, eu falei pra minha amiga. Aí a gente subiu e nisso ele ia atirando no pé das crianças pra não subirem. Ia mandando as crianças virarem pra parede que ia atirar nela e as crianças falavam ‘Não atira em mim, não atira em mim, por favor, por favor moço’ Aí ele ia lá e atirava na cabeça das crianças. Tinha muitas crianças mortas e também é... uma cachoeira muito sangue e... crianças agonizando na escada. Aí a gente subiu e tinha uma menina caída na escada e eu peguei, dei a mão pra ela e ela foi subindo, mas ela não estava ferida. Aí eu subi com ela, aí nisso tava eu e meus colegas, aí a gente subiu, entramos na sala e ele tava carregando a arma. Nisso que ele tava carregando a arma, eu corri mais rápido, entrei na sala. Aí o professor trancou a porta, botou cadeira, mesa, é... estante, o armário, caderno, tudo e aí mandou todo mundo abaixar, ele abaixou também e vários alunos também estavam desmaiados na sala de aula, acontecendo um monte de coisa, gritavam e o professor falava ‘Não, não gritem, não gritem, silêncio, silêncio’ aí eu agachei e fiquei desenhando uma casa na minha mão com a única coisa que eu consegui pegar.”, relatou a aluna Jade Ramos.

“Foi na hora que nós escutamos tiros, minha esposa escutou e começou a me chamar, me gritar. Várias crianças correndo, saindo ensangüentada lá de dentro vieram em direção a gente, pedir socorro, entendeu? Tinha um ferido no ombro, ficou aqui aguardando o socorro, a polícia chegou e levou ele...”, disse uma testemunha.

“É, eu tava lá próximo, né? Eu trouxe a picape, abrimo a lateral, botamo as seis crianças em cima. Tinha criança respirando ainda. Tava respirando ainda, a criança respirando em cima da picape, mas bem baleada.”, disse um aposentado que prestou socorro a seis vítimas.

“Comecei a escutar o barulho. Cheguei no portão e falei, ué gente o que é que ta acontecendo? Pra mim era bomba, né? Era fogos. Aí eu... Lá vem os alunos correndo, saíram direto aqui pra minha casa. Começaram a pular portão, começaram a pedir ajuda ‘Tia me socorre, me socorre’ Aí eu falei assim ‘O que é que houve gente?’ ‘Tia, tem um homem dando tiro dentro da escola’. E veio um menino baleado, né? Tomou um tiro aqui no ombro. Eles foram parar no meu quarto, debaixo da minha cama. Pedindo socorro e liga pra minha mãe, liga pra minha vó... Eu já não sabia pra quem eu ligava.”, contou uma vizinha da escola.

“Você vê crianças todo dia passando na frente do seu portão, entendeu? Crianças que passam... Eu tenho uma árvore... Mexem na minha árvore, eu brigo com um, brigo com outro e já conheço eles de vista. Então eu ver essas crianças hoje sair daqui, da forma que saíram... Pra mim é doloroso.”, diz um outro vizinho do colégio.

“Todo mundo tava em casa. Foi um ligando pro outro. Mãe ligando pra mãe, vizinho chamando vizinho. Aí todo mundo desceu.”, contou uma testemunha quando chegou na porta do colégio.

“Minha filha, não falam nada. Minha filha não ta, eu fui lá.”, diz uma mãe.

“Ninguém sabe me dizer onde é que ele ta. Ninguém sabe dizer o que aconteceu com ele.”, diz uma mãe sem ter nenhuma informação do filho.

“Eu não sei de nada, ninguém informa nada, ninguém fala nada e ficam assim pedindo calma. Como que alguém vai ter calma numa situação dessas? É impossível!”, se desespera uma outra mãe.

“Eu só vi as pessoas mortas lá. Uma menina falecida e o bandido morto cobrido.”, diz a última aluna a sair da escola.

“Eu fico pensando o que que a pessoa tem na cabeça... De fazer isso... De matar... Crianças.”, diz uma mulher em estado de choque diante da cena de terror.

“(Queria agradecer)Aos policiais por salvarem a minha vida. Gostaria (de ter encontrado eles e dizer) Muito obrigado por salvar minha vida, vocês são meu heróis. (Você vai voltar?) Eu vou... Eu pretendo me formar e fazer faculdade de biologia. E ser da Marinha”, disse a estudante Jade Ramos ao voltar a porta da escola.


Nota do Blog: Quando eu vi na televisão uma mãe contando a notícia, pelo telefone, para o marido de que o(a) filho(a) deles tinha sido assassinado(a), fiquei sem palavras para escrever alguma coisa sobre essa tragédia, me deixando apenas como única opção a idéia de transcrever os depoimentos que das pessoas que viveram essa tragédia, deram para a televisão, pois foi o único meio que encontrei para que você sentisse sua própria emoção.

Um comentário:

Loba disse...

é tão terrivel que nos falta palavras pra escrever sobre. a transcrição nos dá uma idéia do terror que foi viver aqueles momentos. terrível herança da nossa (familia, estado, escola) ignorância em relação ao bullying e maus tratos na infância.
beijo!