quinta-feira, 6 de março de 2008

O país do futebol não é o Brasil

Na terça-feira estava assistindo o Bate-Bola 1ª edição da ESPN Brasil. O assunto era a Liga dos Campeões e Paulo Vinícius Coelho, o PVC, um dos melhores comentaristas de futebol do Brasil, estava falando do duelo entre Real Madrid e Roma. Ele disse que leu no jornal italiano Gazzetta dello Sport a possível escalação do time da Roma. Entre Totti, Mancini, Cicinho, Aquilani, Juan e etc começei a viajar.

Sonhei comigo abrindo o jornal ATarde (o maior jornal daqui, o outro é da família Magalhães) de hoje e no caderno de esportes eu encontro a ficha técnica do jogo Bahia x Boca pelas oitavas-de-finais da Libertadores da América, partida que acontecerá logo mais a noite na Fonte Nova com a escalação dos times com jogadores desse nível. Imagine ir para um estádio hoje no Brasil para ver Ronaldinho jogar com a camisa do Grêmio, Kaká e Luís Fabiano com a camisa do São Paulo, Robinho com a do Santos, Alex ser disputado por Palmeiras, Coritiba e Cruzeiro, Daniel Alves com a camisa do Bahia... Chego na Fonte Nova para assistir o jogo e não encontro pilares rachados, ferros de sustenção saindo da parede e muito menos um buraco na arquibancada.

O futebol no Brasil está uma merda. Não existe jogador jogando aqui. O que existe são milhares de revelações que acabaram de ser promovidos das divisões de base e que dentro de no máximo 18 meses já estarão embarcando para o exterior. O resto que completam os times são jogadores veteranos que já não tem mais mercado lá fora e os problemáticos que estão em má fase por lá. Esses últimos voltam, entram dentro de campo, correm um pouco e jogam alguma coisa parecida com o futebol. Não existe aqui um clube que contrate um jogador como Cristiano Ronaldo no auge da carreira ou um Rooney, um Pirlo, um Gerrard. Os clubes estão falidos, precisando que o governo federal, descaradamente, invente uma loteria para eles pagarem uma dívida que eles não pagaram, mas recolheram o tributo na folha de pagamento (o que é um crime e todos os dirigentes de clubes deveriam estar na cadeia, além de pagarem o que recolheram e sonegaram).

Os jogadores brasileiros também procuram o exterior (os melhores que vão para os grandes centros) porque os governantes brasileiros são incapazes de oferecerem uma boa qualidade de vida aqui. Nesse país, a segurança é uma piada, enquanto que nos hospitais tem gente morrendo por falta de atendimento. O caos não é apenas aéreo, isso ocorre também no trânsito. Aqui um jogador não pode ganhar um salário condizente com o retorno que ele dá para o clube, porque seus familiares serão alvos de sequestradores. A mãe de Robinho ficou 41 dias em poder de sequestradores em 2004. Luís Fabiano viveu no mesmo drama de Robinho por 61 dias. Tudo isso interfere nas ecolhas dos jogadores tanto para sair quanto para voltar.

O futebol brasileiro vai muitíssimo bem, dá show praticamente todas as semanas, mas lá na Europa. Aqui a gente tem que se contentar com estádios em precárias condições, rezar não apenas para o time ganhar dentro de campo, mas também para uma arquibancada não cair. Entramos nos estádios para ver um desconhecido Zé Luís jogar, o veterano Edmundo entrar em campo, um problemático Adriano (que pela bola que está jogando foi chamado carinhosamente de "Imperrador") ou esperar algum relampejo de Roger com a camisa do Grêmio. Temos que admirar os gols de Washington, as jogadas de Diego Souza, idolatrar Obina e pedir a convocação de Leonardo Moura para a seleção.

O Brasil não é o país do futebol. Os países do futebol são Espanha, Inglaterra, Itália... aliás a Europa é o continente do futebol. A única coisa que liga o Brasil ao futebol é a nacionalidade dos jogadores que estão no Milan, no Barcelona, Real Madrid, Bayern de Munique, Chelsea...

4 comentários:

Vinicius Grissi disse...

Apesar de ser um eterno defensor do futebol brasileiro, e um otimista nato, sei que você tem muita razão em tudo que escreveu aí. Talvez por ser tão ruim, e continuar carregando milhares de apaixonados para os estádios, o Brasil é o país do futebol.

Anônimo disse...

Vc tem razão,Leandro. Mas ainda somos o país do futebol,sim. Só que,não ficamos com os nossos excepcionais "produtos". Por aqui só ficam os bagaços. E olhe lá.

Vc foi até generoso ao dizer que os garotos ficam 18 meses. que nada!!
O Breno do seu SP disputou um unico Brasileirão e ja deu tchau.
O tal de William dos gambas não fez um gol sequer,e já rendeu muuuuita grana pro seu ex-clube.

Mas uma coisa eu acredito: a incompetencia administrativa da maioria dos clubes é responsavel por isto. Não se prepararam pra nefasta Lei Pelé e o resultado está ai.

abração!!

Mamãe de primeira viagem disse...

o brasil é o país que cria jogadores de futebol para jogar em qq lugar do mundo, menos aqui...
os times já contratam pensando em vender o talento posteriormente....
ótimo texto!!!!

Loba disse...

pois é, uma das poucas legendas a nossa favor está escorrendo pelos ralos do poder econônimo!
talvez nos reste o título de celeiro mundial do futebol! isso se não surgirem outros países emergentes pra disputar o título né? rs...
beijo menino.