sexta-feira, 26 de junho de 2009

Deram a descarga

A última semana foi semana de pós-graduação para mim. Num dos dias, o professor passou um trecho do filme Sonhos de Akira Kurosawa. Era a última parte do filme. Não conheço exatamente a estrutura do filme, pelo que encontrei na internet, deve-se tratar de uma reunião de contos. O trecho do filme mostrava um viajante, mochileiro chegando num vilarejo que vive numa interação direta e saudável com a natureza.
Assim que o mochileiro chegou, ele encontrou um ancião que no decorrer da conversa levantou com toda a saúde e firmeza dizendo que já tinha passado dos 100 anos de idade. Porém, o que mais me impressionou foi a visão do velho sobre a vida urbana. Está tudo muito errado. Os urbanóides vivem da forma mais complicada e autodestrutiva possível. As pessoas simplesmente despejam excrementos, produtos químicos, lixo na própria água que bebem. Mas isso é até lógico, pois é mais fácil e prático construir enormes estações de tratamento de água do que não poluir os rios e lagos.
A vida não é complicada, de jeito nenhum. As pessoas é que gostam de complicar a vida enchendo a cabeça dos outros e a própria de pensamentos vazios, de idéias mirabolantes, que a felicidade está no dinheiro, que as pessoas precisam de roupas caras, carros velozes e luxuosíssimos, iates gigantescos, helicópteros para serem reconhecido pelos outros e não pela simples companhia, da risada demorada, das conversas. Para você ser alguém, você precisa trabalhar e ganhar dinheiro.
A sociedade dita as regras, molda as pessoas ao bel prazer dela e as que não se enquadram ou ficam mandam todo mundo a merda ou ficam loucas. Quando isso acontece, ela trata de execrá-las, humilhá-las, julgá-las e dependendo do julgamento, o veredicto é a morte nas trevas da solidão com o atestado de maluco, excêntrico. É engraçado, a sociedade projeta as pessoas a serem gananciosas, só pensarem em dinheiro, para depois quando o cara tiver rico, virar pra ele e dizer que ele é metido a besta, arrogante. Não ser arrogante para ela é escancarar as portas da casa para uma câmera registrar o cara acordando, lendo o jornal e tomando café. Ou saindo para academia ou simplesmente dando um passeio no parque com a mulher e os filhos. E para justificar a (in)sanidade disso, vem com o queixo de que se a pessoa não quisesse aquilo que ela seguisse qualquer outra profissão e não aquela de celebridade.
Enquanto isso, os Frankensteins da sociedade tem de estar sempre se reinventando, mostrando a calcinha toda vez que vão descer do carro, comprando jatinhos, ilhas, tirando meleca do nariz. Aí eles ou entram na onda ou piram. Os que se mantêm fortes, não sucumbindo à lavagem cerebral, procuram o isolamento e assinam o atestado de loucos, excêntricos, egoístas por não dividir com o resto do mundo a sua vida amorosa, quando foi no shopping, onde comprou o pão, que horas foi no banheiro pra fazer o número 2. Tem uns que fazem de tudo para aproveitar o tempo perdido e começam a comprar parques de diversão aos 30, 40 anos para subirem na montanha russa e ficar dando voltas e voltas até vomitar, que nem as crianças fazem e depois se encher de brigadeiro, algodão doce, pipoca, sem que ninguém apareça com uma câmera fotográfica para registrar a cena e postar na internet segundos depois.
Se fosse normal viver de forma simples como o ancião japonês disse, sem engarrafamentos, poluição, dinheiro, talvez Michael Jackson tivesse sobrevivido a “parada cardíaca” fulminante que acabou de ter aos 50 anos de idade.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Rindo a toa

Semana passada tive a honra de ser convidado para escrever uma crônica para o blog Palimpnóia. A semana foi muito corrida, mas consegui escrever e enviar o texto a tempo para ser publicado no dia correto. Viajei e não tive tempo de divulgar essa notícia e o link da crônica aqui no meu blog. Aí vai com um pouco de atraso e pressa, pois a semana começou hoje e termina amanhã. Aqui na Bahia 24/06 é feriado e para não quebrar as tradições culturais Brasil, resolvemos (a maioria dos trabalhos, inclusive o meu) enforcar os dias úteis e pegar a estrada para pular fogueira, beber licor, comer amendoim (tudo bem que isso todo mundo faz o ano inteiro...) e dançar forró.
O link é esse aqui e sintam-se a vontade para comentar lá ou aqui e também se quiserem, continuem comentando o post abaixo. Até a próxima, porque ainda tenho um monte de coisas para resolver antes de viajar (novamente) amanhã.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Cabeça vazia é oficina do diabo

Vamos brincar para evitar julgar. Antes de pensar na brincadeira, li três notícias na internet. A primeira era sobre uma belga que fez 56 tatoos na cara. Ela diz que pegou no sono, mesmo com as agulhadas na cara e o barulhinho torturante da máquina, aí ficou desse jeito aí.


A outra foi um carro que foi imprensado entre o poste e uma parede, que segundo o pai do motorista, um jovem de 23 anos, ele ia pegar um documento no escritório às 02:30 da manhã...


E a outra foi sobre uma exposição, de um fotógrafo no Rio, que gera um pouco de polêmica. Serão expostas 89 fotos de mulheres saradíssimas, mas não é tendendo a Gracyanne Barbosa e sim para Arnold Schwarzenegger.

Mas a notícia que servirá de tema é a Mega Sena acumulada em 23 milhões de reais. Com esse dinheiro, claro, realizaria meu sonho: não precisar mais trabalhar. E não ia trabalhar mesmo, não estou de brincadeira! Talvez pensaria em investir o dinheiro, montar algum negócio botando alguém para administrar, eu ficaria só com a chave do cofre e com um notebook assistindo o dinheiro cair na conta. Todavia, meu trabalho seria investir na bolsa, comprar ações de empresas grandes e apenas exigir os dividendos. Mesmo com a crise investiria no mercado de ações.
As pessoas alardeam que o mundo está em crise, que está todo mundo fudido, mas a verdade é que Abramovich, dono do Chelsea, Warren Buffet, um dos maiores investidores do mundo no mercado de ações, deixaram de ganhar 500 milhões de dólares para ganhar 300 milhões. É, uma quebrada de 200 milhões não é um trocado, você sente, porém o seu bolso ainda muito profundo para você ter que cortar o iogurte, a carne de primeira e trocar sua Heineken por Nova Schin da lista de supermercado. Muito pelo contrário, Abramovich está comprando um iate (?) por 950 milhões de dólares. O brinquedo parece um transatlântico com dois helipontos e um submarino de dois lugares (Oh, por quê será que tem só 2 lugares?).
Mesmo com os 23 milhões de reais, não faria grandes extravagâncias. Compraria uma cobertura ou uma casa na rua do Barro Vermelho, vulgo praia do Buracão, aqui em Salvador mesmo.

É, talvez um apêzinho de frente pro mar em Copacabana ou na Barra ou no Leblon só pra ter um cantinho pra ficar lá no Rio de Janeiro.

Carro? Talvez nenhum, meu famoso e admirado Gol Prata está muito bem, obrigado. Hoje em dia não cresço mais olho pra carro. Aliás, talvez compraria um Mustang 1960 ou um Opala ou até um Maverick (que esteve a venda por poucos dias na rua da casa do meu tio). A outra parte seria gasto em viagens, festas, claro que sempre com meus amigos, minha galera. Não tem graça em viajar sozinho. Não preciso nem citar que assim que os 23 milhões caíssem na minha conta me tornaria um forte concorrente de Adriano em passar o rodo no Rio de Janeiro.Logicamente que tudo isso não seria feito sem pensar, apenas no impulso. Cuidaria para a fonte não secar jamais. Viveria de aplicações bancárias (lá ele viver da poupança!). Aliás, iria trabalhar sim, me tornaria um blogueiro profissional. O Nove do Quinto não ia parar, seguiria do mesmo jeito que está hoje. O salário é baixo? No Brasil professor também ganha mal pra caralho. O grande problema é que raramente jogo na Mega Sena...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Made in Bahia

Um desses sábados, acho que umas duas semanas atrás, fui pra uma festa espuma mesmo (festa para o mitiê da cidade) e logo na entrada me deparo com um curioso panfleto de propaganda. O panfleto convidava para todos a irem para o Carnaval de Barcelona. As atrações? Asa de Águia, Banda Eva.

O carnaval de Salvador é tão forte que já faz escola no exterior. Mas não vou falar do melhor carnaval do planeta não. O que me chamou atenção foi o simples fato de Barcelona fazer um carnaval baseado no daqui. Durval Lellys, vocalista e líder do Asa de Águia, é quem deve ter começado com essa brincadeira. Ele botou o carnaval de Salvador na mala e levou pra Barcelona. A idéia vingou e agora estão convidando o resto dos baianos para irem pra lá ajudá-lo a fazer a festa.

É óbvio que o carnaval ia vingar lá. Os brasileiros estão espalhados pelo mundo todo, mas em alguns lugares a comunidade brasileira é grande. O poder do brasileiro vem da admiração dos gringos. Os brasileiros comandam em qualquer lugar que estejam. Nós somos a principal atração do mundo. Somos admirados por todos. E principalmente, sabemos como fazer festa. O que exemplifica minha teoria é o Brazilian Day que acontece em Nova Iorque. A maior cidade do mundo, praticamente, pára pra festejar. Agora me responda uma coisa, existe Japanese Day? Italian Day? Não, pelo menos eu nunca ouvi falar. Todo mundo paga pau pra brasileiro.

Aí um esperto, um baiano (o povo mais malandro do Brasil) leva o gostinho do carnaval da Bahia para os brasileiros que estão na Europa morrendo de saudade de casa. Os brasileiros se reúnem pra “Quebraê” com Durval e está armada a festa. Os europeus, ligados nas coisas boas da cultura brasileira, entram no esquema e começam a se balançar entrando na festa e se divertindo junto. No ano seguinte, a quantidade de pessoas aumenta e a coisa vai crescendo, até que Durval, com mais sede ainda de dinheiro, começa a chamar os brasileiros que vivem no Brasil para a festa de lá.

O problema é que a gente é muito preguiçoso, só queremos beijar na boca, fazer sexo, batucar, jogar bola e maguear tudo. Temos muito potencial para fazer qualquer coisa e dominar o mundo como Pink sempre tentou. Se Pink fosse brasileiro, o mundo era dele. Mas como os brasileiros são Macunaíma, preferimos fazer o que gostamos (sexo, futebol, música) e depois viramos pro lado e dormimos (preguiça). Pink gasta um esforço descomunal para conquistar o mundo sem obter sucesso até hoje. Prefiro viver que nem Macunaíma é mais interessante e muito mais gostoso. Se eu conseguir juntar dinheiro (sonho meu...) vou pra Barcelona curtir o carnaval, beber Heineken e pegar umas européias.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Tudo farinha do mesmo saco

É engraçado como as coisas são. Cada nicho tem suas características, seu mundo, suas escolhas, seus gostos, enfim, todo mundo vive de maneira igual, seguem as mesmas leis, mas com ideais e pensamentos diferentes e cada um no seu canto ou, como se diz no pagode baiano, cada qual no seu cada qual.
Domingo de noite, abri a internet, no meu computador a página inicial é o site Terra, pra ver as notícias e uma das manchetes era de que naquele momento estava acontecendo o MTV Movie Awards, premiação do cinema feita pela MTV. A manchete dizia que o filme Crepúsculo era o mais indicado e favorito a levar a maioria dos prêmios.
Existem várias premiações do cinema. Cada uma interessa quase que exclusivamente ao seu público-alvo. O da MTV é voltado para os adolescentes e por isso Crepúsculo recebeu mais indicações. Já vi o trailer, só que não pretendo assistir o filme, mas suspeito que trate-se de um filme sobre vampiros (ou criaturas do além originadas nas profundezas do mal, com força e poderes sobrenaturais e que sempre tem um desertor que passa pro lado do bem) que tem ação para empolgar os garotos com as lutas e um romance água com açúcar para as menininhas suspirarem com a história de amor entre o casalzinho que é formado no início da história, entre o mocinho de gel no cabelo, corrente no pescoço, coragem e força pra vencer o mal, e a linda mocinha de chapinha no cabelo, corpo de modelo, que passam o filme inteiro sendo separados por tudo e por todos, se beijam selando a união eterna no final do filme sob a trilha sonora feita pela banda pop do momento, que coincidentemente ganhou a Escolha da Audiência no último VMA (também lembro da minha época).
Já o Oscar é para a massa pop adulta que se julga culta, esperta, jurando de pé junto que não engole os enlatados que a grande mídia impõe, mas que na verdade engole tudo sem nem sentir e ainda acha gostoso. A escolha de Quem quer ser milionário? como melhor filme do ano ilustra muito bem isso. É um filme com ar de cult, jeito de bem bolado e uma maquiagem de politicamente correto, fazendo de conta que está dando oportunidade para os pobres coitados indianos catadores de lixo mostrarem que também são gente e que tem algo para mostrar para o mundo. No entanto, por debaixo do pano está a enorme vontade de Hollywood em fazer um filme de baixo orçamento com ingredientes sob medida para cair no gosto do grande público e faturar mais uma grana de 9 dígitos. E um diretor com enorme vontade de querer aparecer.
Já os festivais de cinema de Cannes, Palma de Ouro e entre outros são feitos pelos, verdadeiramente, cults, gênios arrogantes e gente que está no mundo a passeio, se divertindo fazendo filmes com criatividade, criando inúmeras técnicas de filmagem, iluminação e dando opiniões excêntricas, se esforçando ao máximo para trazer a realidade a tona. Utilizando o hobby como fonte de (uma boa) renda e fama.
Os públicos de cada festival ou premiação apenas se aturam. Alguns vivem se bicando, mas sem chegar as vias de fato, além daqueles que tentam ignorar, a todo custo, a existência do outro. O público da MTV nunca ouviu falar de Bernardo Bertolucci. Do mesmo jeito que o público de Cannes não sabe nem do que se trata Crepúsculo. Já o público do Oscar acha infantil filmes como Crepúsculo, nunca ouviram falar de Edukators e acharam justo Titanic ganhar um monte de estatuetas. Já o pessoal de Cannes não sabem da existência de Crepúsculo, ridicularizam Quem quer ser milionário? e dá valor a belas tomadas, edições de imagem, histórias complexas e a exposição da vida sem maquiagens ou plásticas na "versão do diretor".
Porém todo mundo vive no seu canto, cada um com sua cerveja ou refrigerante e pipoca na mão, sentados confortavelmente em suas poltronas, idolatrando seus ídolos, delirando com seus filmes e observando seus vizinhos para criticar a vida alheia. Todo mundo se comporta de maneira igual, mas cada um se acha diferente e estão sempre lamentando a escolha "anormal" da pessoa ao lado. Cada um com seu gosto distinto pensando que está botando pra fuder, mas todos estão vivendo no seio da mesma sociedade e fazendo as mesma coisa: bebendo leite. A diferença é que cada um sente o gosto que achar melhor.